A genialidade do ballet de Vaslav Nijinski (dotado de uma técnica extraordinária e por isso chamado o deus da dança), da pintura de Vincent Van Gogh, das esculturas de Camille Claudel, dos modelos matemáticos e jogos criados por John Nash e das obras de Arthur Bispo do Rosário, são exemplos clássicos da consangüinidade entre psicose (seja ela esquizofrênica ou não) e criatividade. Diversos outros personagens poderiam ser citados aqui como exemplos da associação entre uma extrema capacidade criativa e a presença, no decorrer de suas vidas, de sintomas psicóticos.
Mas qual a relação entre loucura e arte? A associação entre essas duas situações é fruto do acaso, algo que ocorre por um capricho, ou há uma ligação mais íntima e desconhecida entre elas?
O gene NRG1, que codifica a proteína Neuregulin 1, é um candidato promissor na susceptibilidade ao desenvolvimento da esquizofrenia e apresenta um papel fundamental no desenvolvimento e plasticidade no sistema nervoso central. O NRG1, localizado no cromossomo 8, apresenta-se quase sempre, como um possível fator de risco ao desenvolvomento de sintomas psicóticos nos estudos de associação genética em psiquiatria (esse sim, uma acho replicado em diversos estudos, ou seja, algo mais consistente).
A presença de dois alelos do NRG1 (genótipo T/T) aumenta o risco de um indivíduo apresentar sintomas psicóticos em algum momento de sua vida, bem como se associa com hipoativação do córtex pré-frontal, achado comum nos estudos de neuroimagem funcional em pessoas com esquizofrenia, segundo estudo publicado por Jeremy Hall, da Universidade de Edinburgh, na Nature Neuroscience em 2006.
Em 2009, o pesquisador Szabolcs Kéri, da Universidade Semmelweis em Budapest, publicou um estudo na Psychological Science, que associa o mesmo genótipo T/T (do gene NRG1/Neuregulin 1) com um aumento da capacidade criativa. Szabolcs comparou o genótipo de 200 pessoas sem transtorno mental para o NRG1 e aplicou testes padronizados para avaliar criatividade (originalidade, fluência e flexibilidade). Também analisou a influência do QI, educação, status sócio-econômico, sexo, idade e a presença de traços esquizotípicos de personalidade como possíveis viéses para os resultados. As pessoas com genótipo T/T foram significativamente mais criativas do que as pessoas com genótipo C/T (segundo grupo mais criativo) e C/C (grupo menos criativo), independentemente de qualquer outra variável.
O que isso sugere?
Se os autores estiverem corretos, os achados sugerem que o mesmo gene que nos torna exímios criadores, inovadores, capazes de perceber nuances e detalhes nas coisas mais simples, que não chamam a atenção de pessoas "comuns", também podem nos tornar delirantes, percebendo sinais de que conspiram contra nós, encontrando evidências de que "o mundo nos observa" para nos prejudicar, evidências essas que, na verdade, não são compartilhadas. O limite entre uma coisa e outra é muito tênue...
Kéri S (2009). Genes for psychosis and creativity: a promoter polymorphism of the neuregulin 1 gene is related to creativity in people with high intellectual achievement. Psychological science : a journal of the American Psychological Society / APS, 20 (9), 1070-3 PMID: 19594860
Hall, J., Whalley, H., Job, D., Baig, B., McIntosh, A., Evans, K., Thomson, P., Porteous, D., Cunningham-Owens, D., Johnstone, E., & Lawrie, S. (2006). A neuregulin 1 variant associated with abnormal cortical function and psychotic symptoms Nature Neuroscience, 9 (12), 1477-1478 DOI: 10.1038/nn1795
8 de abril de 2010
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caramba! já refleti algumas vezes sobre o tema loucura e arte, mas não sob a perspectiva da genética. adoro me deparar com estudos científicos que esclarecem algumas indagações que ocupam o meu pensar e minhas percepções.
ResponderExcluirparabéns pelo blog e pela postagem!