11 de maio de 2010

Antidepressivos em 2009: como eles se saíram?

Cada vez mais prescritos, os antidepressivos figuram entre os psicotrópicos mais vendidos no mundo. Dos 10 remédios psiquiátricos mais prescritos nos Estados Unidos, 6 são antidepressivos, 3 são benzodiazepínicos e 1 é antipsicótico. Cada comprimido colorido no gráfico abaixo indica nada mais do que 1 milhão de prescrições do medicamento! Mais incrível ainda é que, só em 2009, os médicos americanos fizeram mais prescrições psiquiátricas do que o número de habitantes dos Estados Unidos.


Fonte: http://www.good.is

Vamos aos campeões de prescrição em 2009, com seus nomes de marca comercializados nos EUA:

  • 1º lugar (1º lugar em 2008): Xanax (Alprazolam) Benzodiazepínico.
  • 2º lugar (3º lugar em 2008):Lexapro (Escitalopram) Antidepressivo.
  • 3º lugar (5º lugar em 2008): Ativan (Lorazepam) Benzodiazepínico.
  • 4º lugar (2º lugar em 2008): Zoloft (Sertralina) Antidepressivo.
  • 5º lugar (4º lugar em 2008): Prozac (Fluoxetina) Antidepressivo.
  • 6º lugar (fora da lista em 2008): Desyrel (Trazodona) Antidepressivo.
  • 7º lugar (16º lugar em 2008): Cymbalta (Duloxetina) Antidepressivo.
  • 8º lugar (13º lugar em 2008): Seroquel (Quetiapina) Antipsicótico*.
  • 9º lugar (6º lugar em 2008):Efexor (Venlafaxina) Antidepressivo.
  • 10º lugar (9º lugar em 2008): Valium (Diazepam) Benzodiazepínico.

*apesar de ser um antipsicótico o Seroquel está aprovado pelo FDA para o tratamento do transtorno bipolar em suas fases de depressão e euforia.

Mas como um rémedio cai de posição em prescrições em apenas um ano? Peguemos como exemplo o Efexor que caiu da 6ª para a 9ª posicão, e o Zoloft que caiu da 2ª para a 4ª. O que isso significa?

Bem, significa o óbvio, que menos médicos (porque a prescrição de antidepressivos não é feita só por psiquiatras, mas também por neurologistas, ginecologistas, clínicos gerais e por aí vai) estão prescrevendo esses remédios. Mas por quê? Eles eram bons o ano passado! Será que eles deixaram de ser bons remédios? Será que perderam sua eficácia? Isso não me parece muito lógico. O mais provável é que surgiram no mercado medicamentos mais modernos, avançados, fruto das últimas descobertas sobre a mente humana e a farmacogenética, que substituíram essas prescrições. Isso sim é o mais provável...


Certo?

Errado. Mas é o que a maioria do público leigo pensa. Se é novo e é moderno, logo é melhor.

Vários estudos mostram que a eficácia entre os diferentes tipos de antidepressivos é simplesmente a mesma. Alguns podem alegar que os novos tem menos efeitos colaterias e por isso passaram a ser mais prescritos, mas na verdade esse argumento era válido até alguns anos atrás, não é mais. Entre os antidepressivos presentes na lista dos mais vendidos nos últimos anos, não há nenhum tricíclico (aqueles antigos que davam boca seca, tontura e sono) que apesar de muito eficazes causam mais efeitos colaterais que os inibidores de recaptação de serotonina ou noradrenalina, os "Prozac like" e seus derivados.


Outro motivo pelo qual a prescrição de uma medicação (uma marca) diminui é a quebra de patente. Outros laboratórios passam a produzir o sal daquela substância e a vendê-lo a um preço menor, consequentemente o rémedio de marca (referência) perde uma fatia do mercado.

O ano de 2009 foi também marcado pela confirmação de que os antidepressivos parecem não ser superiores ao placebo no tratamento de depressões leves e moderadas. Na verdade, mesmo nas depressões graves o efeito superior ao placebo ocorre não por um aumento de eficácia do antidepressivo, mas por uma perda de eficácia do placebo á medida que a depressão cresce em gravidade.

Na meta-análise de Kirsch publicada em fevereiro de 2008, 47 ensaios clínicos foram identificados nos dados obtidos a partir do FDA. Naquele ano, Kirsch e seus colegas analisaram os estudos que avaliavam a eficácia dos 6 antidepressivos mais prescritos nos EUA (fluoxetina, venlafaxina, nefazodona, paroxetina, sertralina e citalopram).

Como a figura abaixo mostra, a eficácia dos antidepressivos estudados não se alterou em função da gravidade inicial, ao passo que a eficácia do placebo diminuiu como aumentou da severidade inicial da depressão.



Fonte: Kirsch I, et al. (2008) PLoS Med 5(2): e45.

Voltando as prescrições, como então o Seroquel ganhou 5 posições (subiu da 13ª para a 8ª posição) na tabela e o Cymbalta ganhou nove (pulou da 16ª para a 7ª posição) em apenas um ano? Se não são melhores que os outros por que vendem mais? Bem, são remédios sem quebra de patente (ainda), mas cujas vendas aumentaram exorbitantemente no último ano. Como isso?

Resposta: Marketing! Isso mesmo.

A indústria farmacêutica investiu nada menos do 4,5 bilhões de dólares no marketing de seus produtos psiquiátricos, para fazer você acreditar que os remédios que eles produzem são os melhores, mais modernos e funcionam para várias coisas. Não só melhoram a depressão como curam dores, algias crônicas. Não só tratam psicose como também servem como antidepressivos e estabilizadores de humor. Uma verdadeira panacéia. E assim como você que é leigo, muito médico acredita mais no que lhe é dito (pela indústria) do que no que ele vê na prática clínica. Resultado: as variações de vendas flutuam de acordo com o investimento da empresa em marketing. Investiu mais, vende mais. Simples assim.

Veredito final dos antidepressivos em 2009: ganharam muito em vendas, mas perderam muito em credibilidade.

ResearchBlogging.orgKirsch I, Deacon BJ, Huedo-Medina TB, Scoboria A, Moore TJ, & Johnson BT (2008). Initial severity and antidepressant benefits: a meta-analysis of data submitted to the Food and Drug Administration. PLoS medicine, 5 (2) PMID: 18303940

8 comentários:

  1. Olá Janine! Os efeitos colaterais que vc teve pela retirada da Paroxetina são comuns quando ela interrompida abruptamente (também ocorre com a Venlafaxina). É o que chamamos de síndrome de retirada que ocorre com remédios que tem meia vida curta. Existe estudos que mostram que medidas comportamentais (atividade física regular, redução do nível de estresse e terapia comportamental-cognitiva, por ex.) auxiliam bastante na redução dos sintomas. Isso não significa que as medicações não devam ou não tenham que ser utilizadas. Cada caso é um caso e deve ser analisado individualmente, ponderando-se os riscos e beneficios da tomada ou não do remédio.

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  2. Grande Gallucci,
    Recebi o link para o seu blog de um colega de Floripa, muit legal!
    Teu texto me lembra muito o livro da Marcia Angel (A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos). Parabéns!
    Daniel Negreiros

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  3. Oi Gallucci
    Não conhecia o seu blog, vi o link no site do Bairral. Muito bacana viu, parabéns!!!
    Adorei o texto sobre os antidepressivos... Bjão

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  4. Olá Galucci,
    Que bem te encontrar e ler este texto. Faz 3 anos que faço um blog em inglês para falar sobre os problemas dos psicotrópicos.
    Quanto á retirada da paroxetina:
    A retirada deve ser muito lenta e, lamento informar, para muitos é uma decida aos infernos.
    A lista de sintomas de abstinência tem 58 itens entre eles violência induzida pelas mudanças que a retirada causa.
    Para algumas pessoas é impossível a retirada por não suportarem estes sintomas.
    Infelizmente toda a literatura a este respeito encontra-se en inglês.

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  5. Segundo a conclusão da pesquisa, antidepressivos em geral são tão ou pouco mais eficientes que placebo. Posso inferir que você não prescreve antidepressivos? Pelo que os substitui?

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