Isto o torna um ambiente extremamente hostil, onde os animais não conseguem prosperar, daí o seu nome.
Mas o que isso tem a ver com psiquiatria? Muito.
O brometo tem propriedades sedativas e anticonvulsivantes. Sua meia-vida é longa (10 a 12 dias!) e em níveis elevados, substitui o cloreto nos mecanismos de condução neuronal, na estabilização da membrana, prejudicando a transmissão de impulsos nervosos. Como o brometo é identificado como cloreto na grande maioria dos kits de laboratório, os pacientes com intoxicação por brometo, muitas vezes, apresentam hipercloremia associado a um ânion gap negativo.
A intoxicação por brometo apresenta-se clinicamente como um quadro neuropsiquiátrico caracterizado por alteração de comportamento, agitação, labilidade emocional, alucinações, fala pastosa, convulsões e coma. Cerca de 35% dos pacientes também apresentam lesões dermatológicas, basicamente erupções acneiformes grosseiras, placas granulomatosas e, eventualmente, úlceras (o tórax e face são o locais de preferência).
O The American Journal of Medicine de março de 2010 traz um relato de caso de um paciente de 57 anos que chegou ao hospital com mal-estar geral, desorganização do pensamento, humor lábil e fala arrastada. Ele negou consumo de drogas ou qualquer medicação. Os exames iniciais revelaram nível de cloreto elevado (>175 mEq/L) e um ânion gap negativo (-55 mEq/L). Devido a estes valores laboratoriais anormais, alguém muito sagaz de plantão suspeitou de "bromismo" (intoxicação por brometo). Testes adicionais confirmaram um nível sérico muito elevado de brometo (32 mEq/L).
A figura mostra os níveis séricos de Na+, Cl- e Br+ durante a evolução clínica.
Fonte: The American Journal of Medicine, Vol 123, No 3, March 2010
Uma anamnese mais detalhada revelou que o paciente comprava sal do Mar Morto pela internet e o consumia em grandes quantidades com o objetivo de rejuvenescer. Ele melhorou com hidratação profusa com soro fisiológico e uso furosemida e recebeu alta após cinco dias no hospital.
Taylor BR, Sosa R, & Stone WJ (2010). Bromide toxicity from consumption of dead sea salt. The American journal of medicine, 123 (3) PMID: 20193810
Caro Galluci,
ResponderExcluirMuito interessante esta história. O fato é que o ânion brometo é bem mais reativo do que o ânion cloreto: é mais nucleofílico e também melhor grupo abandonador, em reações de substituição nucleofílica. Não é à toa que a maior parte das substâncias halogenadas da natureza serem bromadas, e não cloradas, apesar do ânion cloreto ser muito mais abundante do que o ânion brometo.
Gostei da tua história. Bacana para contar em sala de aula de química (!).
abraço,
Roberto Berlinck
Obrigado Roberto! Tanbém muito relevante sua colocação sobre maior reatividade do ânion brometo. O caso é realmente interessante...
ResponderExcluirabraço!