26 de março de 2010

Os limites da Consciência...ou da fMRI

Em fevereiro deste ano Monti, Vanhaudenhuyse, et al publicaram no The New England Journal of Medicine um artigo provocativo intitulado Willful Modulation of Brain Activity in Disorders of Consciousness" que analisou a existência de atividade cerebral em pacientes com graves danos neurológicos e que se apresentavam em estado vegetativo ou em estado mínimo de consciência. O estudo avaliou 54 pacientes nessas condições dos quais 5 apresentaram ativação cerebral na ressonância magnética funcional (fMRI) quando solicitados verbalmente a imaginarem tarefas do tipo "imagine-se jogando tenis" ou "imagine-se passeando pela sua cidade". O mais intrigante entretanto foi que as mesmas tarefas solicitadas para um grupo de pessoas saudáveis ativaram exatamente as mesmas áreas cerebrais. Um ponto nevrálgico do estudo é a maneira como as tarefas imaginativas foram comparadas com uma tarefa controle. A palavra "relax" foi usada para definir o período de repouso mental (controle). Mas quem fica sem pensar ou imaginar nada em repouso? Além disso sabemos que a ativação cerebral não é prova suficiente para o comportamento associado. Podemos supor, por exemplo, que as ativações encontradas sejam respostas automáticas e inconscientes. Como os próprios autores colocaram:

"Recent evidence suggests that single words can, under certain circumstances, elicit wholly automatic neural responses in the absence of conscious awareness. However, such responses last for a few seconds at most and, unsurprisingly, occur in regions of the brain that are associated with word processing"

"Jumping to the conclusions" os autores referem que os achados de ativação cerebral nestes pacientes refletem "algum grau de consciência e cognição". Assim sendo, uma parcela (sim, pequena!) daqueles pacientes ditos em coma ou em estado vegetativo pode estar consciente. A partir daí podemos imaginar que aquele nosso avô querido ou aquela tia distante que estava em estado vegetativo poderia, na verdade, estar sofrendo ou em desespero por estar consciente de sua condição e de sua impotência perante ela. Obviamente esta é uma interpretação dos resultados reducionista e perigosa. A mente como propriedade emergente do cerébro não pode ser reduzida a um par de hipocampos ativados ou a ativações elicitadas por tarefas imaginativas do tipo "imagine-se jogando tenis". A ativação cortical não nos fornece qualquer evidência de fluxo de pensamentos, memória, auto-consciência, reflexão, representação e em última instância de vida mental sob o aspecto qualitativo. Nos falta aqui a Fenomenolgia. Como dizia Descartes:
Cogito Ergo Sum!

ResearchBlogging.orgMonti, M., Vanhaudenhuyse, A., Coleman, M., Boly, M., Pickard, J., Tshibanda, L., Owen, A., & Laureys, S. (2010). Willful Modulation of Brain Activity in Disorders of Consciousness New England Journal of Medicine, 362 (7), 579-589 DOI: 10.1056/NEJMoa0905370

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